Poder pode, mas não deve.
É isso mesmo. Se você é daqueles que vai pra trilha e acha que beber "água direto da mina" é sinal de qualidade de vida, é ser saudável, saiba que você pode estar errado e colocando sua vida em risco.
Mesmo em locais distantes e remotos, a "água cristalina" pode estar contaminada, mesmo de fontes naturais como minas, poços, córregos de águas cristalinas no meio da mata etc.
Existem inúmeros contaminantes na superfície do solo e nas águas superficiais (setas laranja na imagem abaixo), e estes podem atingir o lençol freático, contaminando toda a água, e depois essa mesma água retornar a superfície já contaminada, como ilustrado na imagem pela letra B.
O lençol freático, também conhecido como lenço d’água, é um reservatório natural de água subterrâneo que se acumula entre as rachaduras das rochas. Faz o papel de uma caixa d'água subterrânea de toda água que se infiltra no solo. Normalmente estão localizados muito próximo a superfície, e com extensões de áreas de centenas de milhares de quilômetros quadrados.
A maioria das pessoas tem em mente que "água de mina" é sempre uma água potável, pura e pronta para consumo. Um grande erro é acreditar que toda água cristalina é pura. Infelizmente não é assim, não dá pra afirmar sem testar a qualidade dessa água.
Muitas vezes os contaminantes são vistos à olho nu. Uma água claramente imprópria para o consumo. Mas também existem contaminantes invisíveis e inodoros, em uma água cristalina, mas que podem causar muitos danos para a nossa saúde. Os contaminantes mais comuns causadores de doenças são os patógenos como protozoários e bactérias. Mas também existem inúmeros outros contaminantes de diversas fontes.
Uma curiosidade sobre a água no Brasil, segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água (Sisagua), 92% da água para abastecimento humano contém todos os 27 pesticidas que a lei obriga a testar, sendo que 20 desses são considerados altamente perigosos pela Pesticida Action Network, 21 são proibidos na União Europeia e 5 são considerados cancerígenos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
E acredite, atualmente temos 5 mil vezes mais resíduo de glifosato (um herbicida) na água potável aqui do que na União Europeia.
Mas de onde vêm os contaminantes? Cada substância prejudicial à qualidade da água vêm de fontes variadas como fertilizantes agrícolas, esgoto industrial e domésticos, agrotóxicos, compostos orgânicos e sintéticos, petróleo e plásticos. Nas trilhas, até mesmo um animal morto em decomposição em um curso d'água acima pode ser uma fonte de patógenos causadores de doenças.
Abaixo estão relacionados as principais formas de contaminação dos lençóis d'água:
Lixões e Aterros Sanitários Irregulares: aterros sanitários irregulares, esses liberam um fluidos residual chamado chorume. Esses fluidos ao se infiltrarem no solo alcançam os lençóis freáticos, contaminando-os com bactérias e outros resíduos diversos, inclusive metais pesados.
Agrotóxicos e Produtos Químicos: quando descartados de forma incorreta, com restos das substâncias tóxicas que também contaminam o solo, poluindo o lençol freático.
Cemitérios: a decomposição dos corpos também liberam contaminantes no solo, como coliformes fecais, bactérias e metais, inclusive chumbo e alumínio, e também podem atingir o lençol freático.
Mas o que esses contaminantes causam? Cada tipo de contaminante presente na água apresentará uma reação específica no corpo no caso da ingestão e/ou contato, podendo causar danos à saúde humana, como câncer, anemia, cólera, diarreia, disenteria, etc. e até levar uma pessoa à óbito.
Em um trail run de poucas horas por exemplo, se você consumir uma água contaminada, provavelmente você ainda terá tempo suficiente para finalizar a atividade e chegar em casa, e só depois de algumas horas irá passar mal. Mas caso esteja em um trekking de em que ficará alguns dias isolado, e você consumir água imprópria já no primeiro dia por exemplo, as chances de você ter complicações são grandes, e de ter que encerrar sua atividade antes do previsto.
Para evitar os contaminantes e garantir uma água potável, é necessário que ela seja sempre tratada com um ou mais métodos de purificação antes do consumo.
Basicamente na trilha podemos usar alguns métodos de purificação da água, como filtros pessoais portáteis, pastilhas de cloro, iodo, água sanitária e a fervura da água. A questão é que normalmente os métodos não promovam a purificação completa da água, ou demandam tempo para isso. Assim temos que optar pelas alternativas que melhor nos atendem em cada situação.
A fervura da água por exemplo, garante a purificação total quanto aos patógenos, contudo não promove a retirada de partículas sintéticas, como de produtos químicos, nem metais pesados. Assim, mesmo com a fervura, ainda é necessário um processo complementar, como por exemplo uma filtragem e em seguida a fervura.
Alguns métodos também seguem esse mesmo raciocínio e precisam de tempo e não purificam totalmente a água, como o uso de algumas gotas de água sanitária ou de iodo em um litro de água para a purificação. Ambos também precisam de um método complementar de purificação.
Por exemplo, se estou fazendo um trekking, uma travessia de alguns dias, provavelmente tenho tempo disponível para ferver a água e aguardar que ela esfrie. Contudo se estou em uma corrida de trilha, não tenho esse tempo disponível pra aguardar.
O mesmo acontece com as pastilhas de cloro, que também necessitam um tempo de ação para garantir sua eficácia. Esse sem dúvida é o método mais usado pelos praticantes de atividades outdoor, o uso de pastilhas de cloro, o famoso "Clor-In", que tem como princípio ativo o "dicloro-S-Triazinetrione de sódio". São comercializadas como a embalagem abaixo na imagem, com 10 pastilhas, e com valor em torno de R$ 15.
São pastilhas pequenas que devem ser adicionadas a um litro de água e deixar agir por 15 ou 30 min para ter eficácia garantida, assim, reduzindo os riscos de doenças, como por exemplo, disenteria, febre tifoide, hepatite A, gastrenterites, leptospirose, giardíase dentre outras.
Eu mesmo já utilizei muito dessas pastilhas de purificação nos meus trekkings. Normalmente andava com duas garrafas de um litro cada. Enquanto em uma delas eu bebia, a outra eu estava purificando durante a caminhada. E seguia alternando as garrafas. E ainda levo sempre como backup nas minhas mochilas e kits primeiros socorros.
Mas nos casos que não se tem tempo de espera disponível, deve-se que optar por formas mais rápidas de purificação, como os filtros portáteis. Com eles é possível obter água com 99,99% de pureza instantaneamente (principalmente contra bactérias e protozoários), e com capacidade de filtragem em torno de 2000 litros. E quanto ao valor, hoje em dia é possível encontrar no mercado um filtro desses por aproximadamente R$ 110 (link de compra do Aliexpress abaixo).
Podem ser usados para beber diretamente na fonte, "como um canudo", ao invés da filtragem para armazenamento em recipientes.
Contudo, esses filtros são de porcelana e não tem eficiência para partículas menores que seus poros de filtragem, normalmente os vírus e metais pesados. Contudo existem modelos com mais níveis de filtragem, como carvão ativo, que promovem uma filtragem mais eficiente.
Apesar de não garantir uma água 100% pura, são extremamente portáteis, práticos e com uma longa vida útil. Esses filtros tem cada vez mais ocupado o espaço do Clor-In, justamente por essas características.
Eu não saio para meus trekkings, hikkings ou treinos de corrida em trilha mais isolados sem levar meu filtro. Eu uso o da marca MiniWell. E pra quem gosta de reclamar de peso e espaço em mochila, não adianta dar desculpas, pois quase ocupam pouco espaço e pesam muito pouco. Tem 13x4 cm de dimensões e 65 g de peso. Não vai ser isso que vai atrapalhar seu rendimento.
No exterior, a algum tempo já são bem comuns as garrafinhas, como os flasks de silicone, já comesses filtros embutidos na tampa. Ou seja, você coleta a água onde quiser com a própria garrafa e já sai bebendo nela mesmo.
Aqui algumas das marcas conhecidas de filtros: LifeStraw, Sawyer, MiniWell e StoneWater.
Bom, resumindo, "água boa para o consumo é a água purificada", seja qual método for. São diversas formas de purificação da água, e você só precisa escolher qual a melhor opção pra sua atividade.
Compartilha com seu amigo de treino que sempre corre risco tomando qualquer água que encontra. E já conta aí se você já conhece esses métodos e se faz uso de algum tipo de purificação.
Deixa seu comentário.
Não coloque sua vida em risco.
Se cuide.
Beba água.
Bora pra trilha.
Bora pra cima.
Link para compra do Filtro Pessoal Portátil MiniWell (Aliexpress)
Fontes:
"Contaminação do lençol freático por resíduos perigosos"
https://www.embtec.com.br/br/noticias/interna/contaminacao-do-lencol-freatico-por-residuos-perigosos-34
https://www.facebook.com/aguasualinda/photos/bebemos-veneno-de-acordo-com-o-sistema-de-informa%C3%A7%C3%A3o-de-vigil%C3%A2ncia-da-qualidade-/1755134317988982/
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